quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Butoh - Kazuo Ohno

BUTOH - Kazuo Ohno

"Sempre que começo o Butoh, sinto uma hesitação, por não saber por onde começar. Mesmo quando pensamos sobre o que é "viver", vemos que normalmente o Butoh se preocessa num inter-relacionamento de duas atitudes, aparentemente opostas, que coexistem: a humanitarista, baseada em amor profundo e altos ideais; a realista, fundamentada nos desejos e necessidades mais diretas. Penso que o Butoh não teria existência própria, se o separássemos do ato de viver. Mas, por mais que se diga isso, não consigo deixar de hesitar todas as vezes que deparo com a questão: por onde começar? Começo sem sentir que essa hesitação significaria negar, sob um aspecto, o viver. Só posso concluir que é exatamente nesse processo denso da vida e nas situações de hesitação está o real começar do Butoh.

O Butoh começa nos movimentos cotidianos do corpo. Quando aparece alguém querendo fazer Butoh, sempre digo que isso levaria pelo menos cinco anos. Durante esse período, o aprendizado se realiza embasado não se sabe se na constante conscientização da análise e síntese dos movimentos do próprio corpo ou se no aprofundamento do conhecimento sobre o processo de viver, se em nenhum dos dois ou em ambos.

A sabedoria de viver, o respeito à vida, tanto de si como a de outros, o reconhecimento da Natureza, são temas que vão surgindo no processo do aprendizado. As dores de uma existência ou então os seus prazeres, os sofrimentos que marcam as nossas próprias vidas, as dádivas da Natureza e a sua destruição são para mim, fenômenos especialmente caros.
Os ferimentos que recebemos nos nossos corpos cicatrizam e se curam com o tempo. Os ferimentos que recebemos no nosso âmago, se aceitos e contemporizados, farão nascer, ao longo dos anos e das experiências, alegrias ou tristeza que, um dia, nos conduzirão para um mundo de poesia, impossível de expressar por palavras, só por meio do nosso próprio corpo.
Em matéria de se ensinar o Butoh, existem coisas que podem ser ensinadas e outras que não. Suponhamos que estivéssemos conduzindo lições/aulas com o tema "Pai Nosso".

Cada um de vocês tentaria expressar, através do corpo, todos os movimentos que o tema lhes inspiraria. E eu os compreenderia todos, por menores que fossem. Mas o problema começaria dali em diante.

Para mim, dançar com o único objetivo de fazer os outros entenderem as imagens que o tema evoca é apenas uma questão anterior ao Butoh; o problema se encontra daí para frente.

O importante é sua postura diante da vida e de sentimentos que decorrerem do processo vivencial, contidos nas verdades do "Pai Nosso". Além disso, a seriedade do viver e de como vocês vão se confrontar com esse problema, constitui o aspecto mais importante. E sobre isso nada posso lhes ensinar. É preciso que cada um de vocês façam uma reflexão. Na minha opinião, vocês devem estar procurando no Butoh uma oportunidade para travar um duelo consciente com o solene ato de viver. Disse-lhes, antes, que levaria pelo menos cinco anos para aprender o Butoh. Nos simples movimentos que se ensinam nestes primeiros anos e também nos procedimentos do dia-a-dia já se incluem, com certeza, essas coisas que lhes disse, que são impossíveis de se ensinar e de se descrever por palavras."































sábado, 6 de novembro de 2010

O Deus Pan

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Estátua de Pan encontrada em Pompéia

Pan (Lupércio ou Lupercus em Roma) era o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores na mitologia grega. Residia em grutas e vagava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas. Era representado com orelhas, chifres e pernas de bode. Amante da música, trazia sempre consigo uma flauta. Era temido por todos aqueles que necessitavam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão da travessia os predispunham a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente e que eram atribuídos a Pan; daí o nome pânico.

Os latinos chamavam-no também de Fauno e Silvano.

Tornou-se símbolo do mundo por ser associado à natureza e simbolizar o universo. Em Roma, chamado de Lupércio, era o deus dos pastores e de seu festival, celebrado no aniversário da fundação de seu templo, denominado de Lupercália, nos dias 15, 16 e 17 de fevereiro. Pan foi associado com a caverna onde Rômulo e Remo foram amamentados por uma loba. Os sacerdotes que o cultuavam vestiam-se de pele de bode.

Nos últimos dias de Roma, os lobos ferozes vagavam próximos às casas. Os romanos então convidavam Lupercus para manter os lobos afastados.

Pan e Syrinx, quadro de Nicolas Poussin (1637)

Pan apaixonou-se pela ninfa Arcadiana Syrinx, que rejeitou com desdém o seu amor, recusando-se a aceitá-lo como seu amante pelo facto de ele não ser nem homem, nem bode.

Pan então perseguiu-a, mas Syrinx, ao chegar à margem do rio Ladon e vendo que já não tinha possibilidade de fuga, pediu às ninfas dos rios, as náiades, que mudassem a sua forma. Estas, ouvindo as suas preces, atendem o seu pedido a transformando em bambu. Quando Pan a alcançou e a quis agarrar, não havia nada, excepto o bambu e o som que o ar produzia ao atravessá-lo.

Quando, ao ouvir este som, Pan ficou encantado, e resolveu então juntar bambus de diferentes tamanhos, inventando um instrumento musical ao qual chamou syrinx, em honra à ninfa. Este instrumento musical é conhecido mais pelo nome de Flauta de Pan, em honra ao próprio deus.

Pan teria sido um dos filhos de Zeus com sua ama de leite, a cabra Amaltéia. Seu grande amor no entanto foi Selene, a Lua. Em uma versão egípcia, Pan estava com outros deuses nas margens do Rio Nilo e surgiu Tífon, inimigo dos deuses. O medo transformou cada um dos deuses em animais e Pan, assustado, mergulhou num rio e disfarçou assim metade de seu corpo, sobrando apenas a cabeça e a parte superior do corpo, que se assemelhava a uma cabra; a parte submersa adotou uma aparência aquática. Zeus considerou este estratagema de Pan muito esperto e, como homenagem, transformou-o em uma constelação, a que seria Capricórnio.

Roland Topor y el movimiento Pánico (de cine)

(En la imagen superior reunión de El grupo pánico. De izquierda a derecha: Alejandro Jodorowsky, Jacques Sternberg, Fedorov, Fernando Arrabal, Roland Topor, Luce Moreau (esposa de Arrabal) y Toyen.)

El movimiento pánico lo fundaron Fernando Arrabal, Alejandro Jodorowsky y Roland Topor en París en 1963. Para mi sorpresa en algunos artículos he leído como fecha fundacional la de 1962, si bien, el movimiento pánico comenzó a gestarse tras la escapada del grupo surrealista de Arrabal y Topor, cansados de la rigidez impuesta por André Breton.

Así declararon que Pánico sería todo aquel artista que se denominara como tal. Algo semejante a la determinación del movimiento Postista de 1945 en España, que también optó por una línea semejante de afiliación creativa. Pero el movimiento Pánico, a diferencia del Postismo, se hermanaba también con la ciencia, la alquimia, las matemáticas, el psiquicodrama, etc. Y, al igual que el postimo, tomaba el humor como un referente necesario e imprescindible.

Pero la presentación en público del movimiento o grupo Pánico la protagoniza Fernando Arrabal en 1963 durante una conferencia en Australia sobre “el hombre Pánico”.

En España el Pánico se propagó gracias a la publicación de textos pánicos y del ensayo de Arrabal El hombre pánico en la revista Papeles de Son Armadans, dirigida desde Mallorca por Camilo José Cela. Antonio Fernández Molina, por entonces secretario de redacción de la citada publicación, hizo de vocero del movimiento en España y él mismo realizó algunos poemas, así como collages, en colaboración con otros artistas españoles, que se enmarcaron dentro del movimiento Pánico.

El lector encontrará abundante material sobre el tema tratado en el libro de Fernando Arrabal: El pánico, que agrupa textos, imágenes y revelaciones de lo que fue el movimiento hasta la fecha de aparición del libro. Este volumen, capital para comprender el movimiento, se publicó por primera vez en el año 1973, en París, con el título Le Panique. La editorial Libros del Innombrable, en el año 2008 , reeditó este texto imprescindible junto al Manifiesto para el tercer milenio de Fernando Arrabal, escrito en el año 2000, que sitúa la perspectiva del Pánico en el presente.

El nombre rememora al dios Pan de la mitología clásica, un dios que inspira temor y pavor, con habilidades musicales, perseguidor de ninfas… Aunque se le conocen diversas genealogías en una de ellas se le identfica como hijo de Hermes y de una pastora, en otra como hijo de Hermes y una ninfa…

El movimiento Pánico generó abundantes textos críticos (como El hombre pánico de Fernando Arrabal), acciones teatrales (véase obras teatrales y happenings de Jodorowsy y Arrabal), pintura (Olivier O. Olivier, Fernando S. M. Félez, el propio Topor…), ópera (ópera Pánica de Jodorowsky estrenada en 1993, o Faust-bal, ópera con música de L. Balada estrenada en el Teatro Real de Madrid en el año 2009…), poesía (La piedra de la locura de Fernando Arrabal, Cinco sonetos pánicos de Antonio Fernández Molina…), un diccionario (Diccionario Pánico de Fernando Arrabal) cine (véase la abundante cinematografía de Jodorowsky -como Fando y Lis, adaptación de la obra teatral de Arrabal del mismo título, 1967, El topo,1970-; Arrabal -Iré como un caballo loco, 1973. ¡Viva la muerte!, 1971 y Topor -del que hablaremos a continuación-).

Por fortuna, en España se han publicado los largometrajes de Jodorowsky y Arrabal con abundante material extra, entrevistas y, por fortuna, con buena acogida de público “pánico”. Y de los interesados por la cultura menos oficial…

“Arrabal es mejor que Fellini, que Ingmar Bergman… es al cine lo que Rimbaud a la poesía”, escribió P. Bruckberger en Le Monde.

En España todavía tenemos pendientes varias deudas con Roland Topor. Si bien hemos asistido a reediciones en castellano de algunos de sus libros como Cocina Caníbal y la novela El quimérico inquilino, sus cortometrajes permanecen sin editar. Roland Topor, escritor, pintor, autor dramático y también cineasta desarrolló una interesante carrera cinematográfica tanto en calidad de actor, como en Nosferatu: Phantom der Nacht de Werner Herzog (1979), o como artífice total, director de arte, de artistas y guionista como en la peculiar y excelente recreación del mundo del Marqués de Sade, del film Marquis (1988). Por su parte Roman Polanski realizó una destacada adaptación cinematográfica de la novela de Topor El quimérico inquilino (¿tal vez una novela pánica?) en 1976.

En el año 1973, el mismo año del estreno del film La Montaña Sagrada de Jodorowsky, Topor recibió el premio especial del jurado del Festival de Cannes por su obra de animación El Planeta Salvaje. Este largometraje se puede encontrar en el mercado español, no así sus cortometrajes que considero sería interesante editar para completar el tríptico pánico cinematográfico: Topor, Arrabal y Jodorowsky.

También permanece pendiente de publicación en nuestro país la novela que escribió Fernando Arrabal en homenaje a su amigo Topor tras su muerte : Champagne pour tous! (publicada en el año 2002 en París). Al respecto Arrabal declaró, en el mismo año de la publicación de la novela, en una entrevista en ABC:

ABC: -¿Qué significación tuvo la creación del grupo Pánico (respeto irrespetuoso al dios Pan)?

Arrabal: -El grupo salió del surrealista. Acaba de salir un libro mío en París, llamado «Champán para todos», que resume lo que fue aquello. Era la fiesta de la lectura, de la escritura y de la ciencia. Ese «Champán para todos» celebra el pánico. La lectura del libro se traduce en las empresas más locas, bárbaras y maravillosas. Así lo demuestra el que el sábado pasado escribiera en la Tercera de ABC un artículo titulado «Las estrepitosas risas de Lenin». No se puede imaginar a Lenin, creador del marxismo leninismo y del comunismo activo, si no hubiera escrito los primeros manifiestos de la modernidad, los primeros manifiestos dadaístas. Lenin está dudando entre ser dadaísta-leninista o marxista-leninista. La modernidad abre las puertas a la santidad, aunque está desprestigiada para muchos o es una broma para otros. La Literatura también abre las puertas de la santidad, sin ser una cosa frívola. En mi vida lo más importante es hacer el bien y hacer la fiesta. Nosotros hemos luchado mucho. En mi caso, vi incluso que Fidel Castro cerró el paso a la posibilidad de que yo recibiera el Cervantes. Que un jefe de estado se moleste en ponerme el veto en un premio literario es increíble. Yo podría decirle, como lo he hecho, que no se preocupe: yo le regalo a usted ése y todos los premios.

Los propios creadores del movimiento en ocasiones han desmentido la relación directa de algunas de sus obras con el movimiento Pánico, por otro lado, los críticos han entablado su propia medida sobre lo que es o no Pánico dentro de la obra de cada autor. En todo caso, a nuestro juicio, el movimiento flota en el espíritu de muchas de las actividades y obras de los tres autores fundacionales, no sólo a partir de 1963 sino incluso con anterioridad, no sólo durante los años de mayor efervescencia del movimiento, sino también mucho más tarde, cuando se perciben en cada uno de ellos otras influencias personales y dispares . Por otra parte, el calificativo de “Pánico” para obras de arte, literatura e incluso composicionies musicales lo reivindican diversos artísticas de generaciones recientes.

Entre los que han saltado hacia el moviento Pánico recientemente destaca Joan Frank Charansonnet que bautizó a sus creaciones filmicas como parte del movimiento post-pánico. En el año 2009 durante el rodaje de Ushima-Next, dirigida por el propio Joan Frank y Jesús Manuel Montané y en la que intervino el propio Arrabal como actor, se consolidó esta definición en un primer proyecto. En la actualidad el creador del post-pánico, que reconoce la influencia y el deseo de continuidad e inspiración del movimento Pánico, ya ha comensazado a rodar el segundo largometraje.

Tal vez si se publicaran los cortometrajes de Topor trajeran el Pánico a las nuevas generaciones artífices de un género, como el de la animación, tan en alza.

Fonte: http://raulherrero.blogs.generacion.net/roland-topor-y-el-movimiento-panico-de-cine

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Teatro Intenso!

O grupo retorna com novas propostas e novo nome: Teatro Intenso.
Este 2010, com mais um novo ano de residência na Casa Amarela de Cultura de Santo Amaro, os alunos-atores do grupo encenarão o texto "PIC NIC", do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal.
Acompanhe o blog para ficar por dentro das novidades.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Arrabal presenteia-nos, divulgando nossa peça para o mundo!

A juventude Ilustrada

É com grande orgulho que anuncio um inesquecível presente do querídissimo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal: "Sin tiempo ni de estornudar le envio un cariñoso recuerdo" (Sem tempo nem para espirrar, envio-lhe uma carinhosa lembrança") :

http://newperformancestheatre.blogspot.com/2007/11/juventud-ilustrada-so-paulo-brasil.html

O dramaturgo publicou, em seu blog pessoal, a divulgação sobre nossa montagem da peça "A juventude ilustrada"!



Arrabal presenteia-nos, divulgando nossa peça para o mundo!

A juventude Ilustrada

É com grande orgulho que anuncio um inesquecível presente do querídissimo dramaturgo espanhol Fernando Arrabal: "Sin tiempo ni de estornudar le envio un cariñoso recuerdo" (Sem tempo nem para espirrar, envio-lhe uma carinhosa lembrança") :

http://newperformancestheatre.blogspot.com/2007/11/juventud-ilustrada-so-paulo-brasil.html

O dramaturgo publicou, em seu blog pessoal, a divulgação sobre nossa montagem da peça "A juventude ilustrada"!



quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Aos alunos-atores interessados,

Estamos agendando uma primeira reunião, junto aos interessados em conhecer as propostas de curso (teóricos, práticos e preparatórios para EAD) e realizar suas inscrições, para o dia 21/11 (quarta-feira, após o feriado), nas mesinhas do Centro Cultural São Paulo (estação Vergueiro do metrô), ao lado da biblioteca. Interessados deverão enviar nome completo e telefone para o email: teatroindependente@gmail.com , para que seus nomes sejam adicionados à lista. O encontro acontecerá às 20:00hs.
Contamos com a presença de todos!
Evoé!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Oportunidades

O Teatro Independente abriu vagas para alunos-atores que tenham interesse em cursos teóricos e práticos. Serão oferecidos diversos cursos, sobre os mais diversos temas e autores. Os alunos também poderão optar pelas aulas práticas, que encerram com a apresentação de um espetáculo.
O grupo oferece cursos livres e de formação contínua de atores, sendo que este último é voltado àqueles que desejam obter DRT.
Será oferecido, também, um curso preparatório para atores que tenham interesse em prestar a prova da EAD (Escola de Artes Dramáticas - USP). Este curso já foi ministrado anteriormente, com grande sucesso, com diversos alunos aprovados.
O grupo conta com um vasto acervo de raríssimos materiais bibliográficos e audiovisuais, para enriquecer a formação de seus atores.

Todos os interessados deverão enviar um email, com urgência, para obter mais informações ao:
teatroindependente@gmail.com

Contamos com a participação de todos!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

--- Blog em fase de reestruturação --- Voltem para conferir o novo visual do nosso blog em alguns poucos dias!! ---

quarta-feira, 13 de junho de 2007

A oração, de Fernando Arrabal

Queridíssimos integrantes do Teatro Independente, como nosso foco de trabalho, em uma das montagens, repousa sobre Arrabal, envio, a seguir, para enriquecer-nos de material, a peça "A oração".

A Oração

Escuridão.
Fracos gritos de um recém-nascido durante um momento.
De repente, um grito forte do bebê, seguido imediatamente de um silêncio.


Fídio: A partir de hoje, nós seremos bons e puros.
Lilibé: O que lhe aconteceu?
Fídio: Eu disse que a partir de hoje nós seremos bons e puros, como os anjos
Lilibé: Nós?
Fídio: Sim
Lilibé: Não conseguiremos.
Fídio: Você tem razão, será muito difícil. Mas vamos tentar
Lilibé: Como?
Fídio: Observando a lei do Senhor.
Lilibé: Eu não me lembro dela.
Fídio: Eu também não.
Lilibé: Então como é que vamos fazer?
Fídio: Para saber o que é o bem e o que é o mal?
Lilibé: Sim.
Fídio: Eu comprei a bíblia.
Lilibé: E isso basta?
Fídio: Sim. Basta.
Lilibé: Nós seremos santos.
Fídio: Isso é pedir demais. Em todo caso tentaremos.
Lilibé: Ah, então vai ser muito diferente?
Fídio: Sim, muito
Lilibé: Não vamos mais nos aborrecer como agora?
Fídio: E além do mais será muito bonito.
Lilibé: Você tem certeza?
Fídio: Acho que sim.
Lilibé: Leia um pouco pra mim.
Fídio: Da bíblia?
Lilibé: Sim.
Fídio: (ENTUSIASMADO) – “No princípio Deus criou o céu e a terra.” Como é bonito!
Lilibé: Sim, é muito bonito.
Fídio: (LENDO) “Deus disse: faça-se a luz, e a luz se fez”. “Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou a luz do dia, e as trevas de noite. Assim foi feito o dia e a noite, surgindo o primeiro dia.”
Lilibé: Tudo começou assim?
Fídio: Tudo. Vê como é simples?
Lilibé: Nossa! Tinham me explicado de um jeito bem mais complicado.
Fídio: As histórias do universo?
Lilibé: É.
Fídio: A mim também.
Lilibé: E também a evolução.
Fídio: Que coisa estranha! (PAUSA)
Lilibé: Leia um pouco mais
Fídio: “E o Deus eterno fez o homem da poeira da terra, e dando-lhe um sopro, o Deus eterno fez a mulher da costela que tirou do homem”. (FÍDIO E LILIBÉ SE BEIJAM)
Lilibé: (INQUIETA) – E nós vamos poder dormir juntos?
Fídio: Não.
Lilibé: Mas eu vou sentir frio.
Fídio: Você se acostuma.
Lilibé: E você? Não vai sentir frio?
Fídio: Vou. Claro.
Lilibé: Mas pelo menos não vamos brigar pelas cobertas.
Fídio: Não. Claro.
Lilibé: Tá aí um negócio difícil, a bondade.
Fídio: É, muito.
Lilibé: Eu vou poder mentir?
Fídio: Não.
Lilibé: Nem mesmo umas mentirinhas?
Fídio: Nem isso.
Lilibé: E roubar laranjas?
Fídio: Também não.
Lilibé: Nem brincar como antes no cemitério?
Fídio: Sim. Por que não?
Lilibé: E furar os olhos dos mortos, como antes?
Fídio: Ah, isso não.
Lilibé: E matar?
Fídio: Não.
Lilibé: Então vamos deixar que as pessoas continuem vivendo?
Fídio: Vamos.
Lilibé: Pior pra elas.
Fídio: Você não percebeu o que é preciso fazer para ser bom?
Lilibé: Não.(PAUSA) e você?
Fídio: Não muito bem. (PAUSA) – Mas eu tenho o livro e com ele saberei.
Lilibé: Sempre o livro.
Fídio: Sempre.
Lilibé: E o que acontecerá depois?
Fídio: Iremos pro céu.
Lilibé: Os dois?
Fídio: Se tivermos um bom comportamento, sim.
Lilibé: E o que faremos no céu?
Fídio: Brincaremos.
Lilibé: Sempre?
Fídio: Sempre.
Lilibé: Não é possível! (INCRÉDULA)
Fídio: Claro que é.
Lilibé: Por quê?
Fídio: Por que Deus é todo poderoso. Deus faz coisas impossíveis: Milagres.
Lilibé: (ADMIRADA) Puxa!
Fídio: E de um jeito bem simples.
Lilibé: Eu no lugar dele faria a mesma coisa.
Fídio: Ouça o que diz a bíblia: “Foi levado um cego até Jesus, e pediram que o tocasse,, ele pegou o cego pela mão e o levou pra fora da aldeia, depois ele colocou saliva sobre os olhos, colocou as mãos e lhe perguntou se via algo. Ele olhou e disse que via os homens como árvores que andam. Jesus colocou de novo, a mão sobre os olhos, e quando o cego olhou fixamente, estava curado e viu tudo claramente.”
Lilibé: Como é lindo!
Fídio: Ele dizia que é preciso ser bom.
Lilibé: Então nós seremos bons.
Fídio: Temos que ser como as crianças.
Lilibé: Como as crianças?
Fídio: Sim. Puros como as crianças.
Lilibé: É difícil.
Fídio: Tentaremos.
Lilibé: Por que você pegou essa mania agora?
Fídio: Porque eu estava de saco cheio.
Lilibé: Só por isso?
Fídio: E além disso, foi tão sem graça o que fizemos até agora.
Lilibé: E que história é essa de céu?
Fídio: É pra onde iremos depois da morte.
Lilibé: Vai demorar tanto assim?
Fídio: É. Vai.
Lilibé: Não podemos ir um pouco antes?
Fídio: Não.
Lilibé: Assim não tem graça.
Fídio: Sim. É muito chato.
Lilibé: O que faremos no céu?
Fídio: Vamos brincar, oras!
Lilibé: Ah, me parece tão impossível! Eu gostaria que você dissesse isso outra vez.
Fídio: Nós seremos como os anjos.
Lilibé: Como os bons ou como os outros?
Fídio: Os outros não vão para o céu. Os outros são demônios e vão para o inferno.
Lilibé: E o que eles fazem lá?
Fídio: Eles sofrem muito. Ardem. Queimam.
Lilibé: Que diferente!
Fídio: Esses anjos eram muito maus e se revoltaram contra Deus.
Lilibé: Por quê?
Fídio: Por orgulho. Eles queriam ser mais que Deus.
Lilibé: Passaram dos limites.
Fídio: Demais.
Lilibé: Nós não chegamos a tanto.
Fídio: Realmente, não chegamos.
Lilibé: Olha, eu quero começar a ser boa agora.
Fídio: Comecemos imediatamente.
Lilibé: Mas assim? Sem nenhuma transição?
Fídio: É.
Lilibé: Ninguém vai perceber.
Fídio: Deus vai perceber.
Lilibé: Certeza?
Fídio: Sim. Deus vê tudo.
Lilibé: Ele vê até quando eu faço xixi?
Fídio: Também.
Lilibé: Agora eu vou começar a ter vergonha.
Fídio: Deus marca com letras de ouro, num livro lindo, tudo o que você faz de bom. E num livro muito vil, com uma letra muito feia, todos os seus pecados.
Lilibé: Eu serei boa. Eu quero que ele escreva sempre com letras de ouro.
Fídio: Você não deve ser boa só por isso.
Lilibé: E por que mais então?
Fídio: Pela sua felicidade.
Lilibé: Que felicidade?
Fídio: Para ser feliz.
Lilibé: Eu poderia ser feliz sendo boa?
Fídio: Claro.
Lilibé: Será que felicidade existe?
Fídio: Existe. (PAUSA) – É o que dizem.
Lilibé: E o que nós fizemos antes?
Fídio: O que nós fizemos de mau?
Lilibé: É.
Fídio: Precisamos confessar.
Lilibé: Tudo?
Fídio: É. Tudo.
Lilibé: E também que você me despe para que os seua amigos durmam comigo?
Fídio: Inclusive.
Lilibé: E tembém que matamos? (APONTA O CAIXÃO MORTUÁRIO)
Fídio: É. Também. (PAUSA TRISTE) – Não devíamos tê-lo matado. (PAUSA) – Somos maus. É preciso ser bom.
Lilibé: (TRISTE) – Nós o matamos pelo mesmo motivo.
Fídio: O mesmo motivo?
Lilibé: É matamos para nos divertir.
Fídio: É verdade.
Lilibé: E a gente só se divertiu um pouquinho.
Fídio: É.
Lilibé: Se a gente tentar ser bom, não vai ser a mesma coisa?
Fídio: Não. É mais completo.
Lilibé: Mais completo?
Fídio: E mais bonito.
Lilibé: E mais bonito?
Fídio: Sim. Você sabe como nasceu o filho de Deus? (PAUSA) – Aconteceu há muito tempo. Ele nasceu em uma manjedoura muito pobre de Belém, e como ele não tinha dinheiro para comprar agasalho, uma vaca e um burro o aqueceram com sua respiração. E como a vaca ficou muito contente de servir a Deus, ela fazia muu, muu e o burro relinchava. E a mãe da criança, que era a mãe de Deus, chorava. E seu marido a consolava.
Lilibé: Isso me agrada muito.
Fídio: A mim também.
Lilibé: E o que aconteceu com a criança?
Fídio: Ela não tinha nada, ainda que fosse Deus. E como os homens eram maus, não lhe deram nada de comer.
Lilibé: Que gente!
Fídio: Mas um dia, num reino muito distante, reis que eram muito bons viram uma estrela que caminhava no céu e a seguiram.
Lilibé: Ah, são aqueles que põem presentes nos sapatos?
Fídio: Sim (PAUSA) – E eis que eles seguiam... seguiam... seguiam... a estrela, até que chegam um dia à manjedoura de Belém. Então eles ofereceram à criança, tudo o que traziam em seus camelos: muitos brinquedos e balas e chocolate. (PAUSA. ELES SORRIEM COM ENTUSIASMO)
Lilibé: Que coisas!
Fídio: Então a criança ficou muito contente e seus pais também, e a vaca e o burro também.
Lilibé: O que aconteceu depois?
Fídio: Depois a criança ajudou seu pai, que era carpinteiro, a fazer mesas e cadeiras. E como ele era bem comportado sua mãe o beijava sempre.
Lilibé: Uma criança bem diferente das outras.
Fídio: Ele era Deus.
Lilibé: É verdade...
Fídio: E o que era bom, é que nessa época ele não fez nenhum milagre para comprar roupas caras ou comer melhor.
Lilibé: E depois?
Fídio: Depois ele se fez homem e eles o mataram: eles o crucificaram com pregos nas mãos e nos pés. Já pensou?
Lilibé: (CONTENTE)- Deve doer muito.
Fídio: Sim. Muito.
Lilibé: E ele deve ter chorado muito.
Fídio: Não. De jeito nenhum. Ele se continha. Aliás, para humilhá-lo mais ainda eles o colocaram entre dois ladrões.
Lilibé: Ladrões. Maus ou simpáticos?
Fídio: Maus, dos piores. Os dois piores que encontraram.
Lilibé: Isto é mau.
Fídio: E não é que um dos sois não era ladrão, era um impostor. Um indivíduo que enganava todo mundo.
Lilibé: Que enganava todo mundo?
Fídio: Sim. Ele tinha feito todo mundo pensar que ele era mau e de repente descobriram que ele era bom.
Lilibé: E o que aconteceu depois?
Fídio: Bem. Deus morreu na cruz.
Lilibé: Foi?
Fídio: Sim. Mas ele ressuscitou.
Lilibé: (CONTENTE) Ah!
Fídio: E todos perceberam que ele tinha dito a verdade.
Lilibé: (ENTUSIASMADA)- Eu quero ser boa.
Fídio: Eu também.
Lilibé: Imediatamente.
Fídio: Sim. Imediatamente. (FÍDIO TOMA AS MÃOS DE LILIBÉ ENTRE AS SUAS)
Lilibé: (INQUIETA) – E como vamos passar o tempo?
Fídio: Bem. Quase o tempo todo.
Lilibé: E os outros dias?
Fídio: Iremos ao zoológico.
Lilibé: Para ver as sacanagens do macaco?
Fídio: Não (PAUSA) – Para ver as galinhas e as pombinhas.
Lilibé: E o que mais podemos fazer?
Fídio: Tocaremos ocarina.
Lilibé: Ocarina?
Fídio: Sim.
Lilibé: Bom. (PAUSA) – Não é mau?
Fídio: Não. Eu acho que não.
Lilibé: E como faremos para sermos realmente bons?
Fídio: Você vai entender. Se a gente percebe que alguma coisa incomoda alguém, você não a faz. Quando você percebe que alguma coisa dá prazer a alguém, você a faz. Se você ver um pobre velho paralítico, que não tem ninguém no mundo, aí você vai visitá-lo.
Lilibé: A gente não o mata?
Fídio: Não.
Lilibé: Coitado do velho.
Fídio: Mas você não entende que a gente não pode mais matar?
Lilibé: Continue.
Fídio: Se você vê que uma mulher carrega um fardo pesado, você a ajuda. (VOZ DE JUIZ) – Se você ver que alguém comete uma injustiça, você a repara.
Lilibé: As injustiças também?
Fídio: Também.
Lilibé: (SATISFEITA) – Vamos ser pessoas importantes.
Fídio: Sim. Muito.
Lilibé: (INQUIETA) – E como saberemos quando é uma injustiça?
Fídio: Veremos isso fazendo um julgamento. (SILÊNCIO)
Lilibé: Vai ser entediante. (SILÊNCIO) – Vai ser como todo o resto. (SILÊNCIO) – E vai ser penoso. (SILÊNCIO)
Fídio: Vamos tentar. (OUVE-SE À DISTÂNCIA “WHAT A WONDERFUL WORLD” DE ARMSTRONG)